RIO DE JANEIRO

Minha alma canta. E a de todos os passageiros também. A Guanabara se aproxima. Depois de deixar a Baía de Sepetiba e o Maracanã para trás, o avião acentua a trajetória de descida e os rostos colam nas pequenas janelas - azar de quem fez tarde o check-in.

Desvia do Cristo Redentor e das antenas do Sumaré; raspa nos bondinhos e no Pão de Açúcar; sobrevoa o Caminho Niemeyer, em Niterói; atravessa a ponte; ultrapassa a Ilha Fiscal; mira a pista do Santos Dumont; e toca o chão. Uaaau!!! Um espetáculo, ainda mais impressionante no fim de tarde de um dia ensolarado, quando cores irreais, entre o vermelho e o laranja, surgem no horizonte.

É rápido, verdade. Mas todos sabem: o que é bom dura pouco. Quem não se emociona ao chegar ao Rio de Janeiro pelos céus, de onde é possível apreciar um resumo breve do que nos aguarda em solo? É quase inacreditável o que se vê. Uma "cidade feita de montanha em casamento indissolúvel com o mar", como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade, eternizado em bronze no calçadão de Copacabana.


Seu companheiro de ofício, Vinicius de Moraes, não está só: para os leitores da VT, beleza também é fundamental. Não à toa voltaram a dar à Cidade Maravilhosa o título de melhor do Brasil, cravando nada menos que uma nota 4,93 em "beleza" (num máximo de 5, a maior nota entre todas as 80 atribuídas pelos leitores nos oito quesitos avaliados).

Apesar de eloqüente, a manobra aérea é só um aperitivo. É tão digna de aplausos quanto o pôr-do-sol no Posto 9 (em Ipanema). Mais até. Mas ninguém se atreve. Carioca é besta. Acha tão brega aplaudir pouso de aeronave quanto pedir autógrafo a artista na rua.


Demorou um tanto até o Rio recuperar a coroa, por três anos seguidos em poder de Floripa. Mas o retorno ao topo do pódio do Prêmio VT como melhor cidade do país aconteceu em grande estilo.

Às vésperas da realização dos Jogos Pan-Americanos, um banho de loja toma conta da urbe: novos quiosques na orla (alguns em Copacabana já funcionam a pleno vapor), novos hotéis (o Fasano, em Ipanema; o Windsor Astúrias, o Ibis e o Formule 1, no centro), novos restaurantes (os siameses Pederneiras e One, a abrir no mesmo endereço em Ipanema, onde recentemente funcionava o Mix, os paulistanos Nakombi e Bráz, além do Fasano al Mare e do Ráscal, com seu bufê de massas e grelhados impecáveis, muito acima da média), novas casas noturnas (a Choperia Brazooka e a arena Vivo Rio), novos shoppings (o chiquérrimo Leblon), teatros (a volta triunfal do Casa Grande) e cinemas.


Recém-inaugurado, o moderno Shopping Leblon (na Afrânio de Melo Franco, torna ainda mais chique e atraente o bairro. Com quatro cinemas e mais de 200 lojas, incluindo grifes internacionais estilo Oscar Freire e Avenida Alvear, como Armani, Ermenegildo Zegna, Tommy Hilfi ger, Brooksfield, H. Stern, L'Occitane, Mont Blanc, tem a praça de alimentação mais bacana entre os centros comerciais cariocas, ancorada pelo Ráscal. Entre uma garfada e outra, pode-se apreciar o vistão que alcança a Lagoa e a Floresta da Tijuca.

A efervescência toma conta de todos os bairros. "O Rio de Janeiro está passando por um momento extremamente positivo", diz Rubem Medina, secretário de Turismo da cidade, que atribui parte da boa fase ao Pan-Americano. "É um marco, um divisor de águas. Os investimentos em estádios e novos equipamentos esportivos, os parques remodelados, a revitalização de regiões antes degradadas... A cidade está mais feliz." E olha que mal chegou o verão, quando o Rio de Janeiro é mais carioca: escancara o sorriso, tira a camisa, calça o chinelo, vai à praia e se acaba de sambar...

Mas (só) beleza não põe mesa, diz o sábio dito popular. Então, o Rio tasca logo um 4,83 em "atrações" para não ter mais conversa - também a maior de todas as notas entre as dez melhores cidades desta reportagem nesse quesito. Não é mole mesmo. Quem se candidata a encarar? Ipanema, Leblon, Pão de Açúcar, Lagoa Rodrigo de Freitas, Floresta da Tijuca, Jardim Botânico, Baixo Gávea, bondinhos em Santa Teresa, MAM, Lapa, Pedra da Gávea, vôo livre sobre São Conrado, Teatro Municipal, Marquês de Sapucaí, carnaval de rua, Cidade do Samba, ensaios da Mangueira, Copacabana Palace, Mosteiro de São Bento, Confeitaria Colombo, Flamengo jogando no Maracanã, fogos de artifício espocando nos céus de uma Copacabana lotada no Réveillon.

Revista Viagem e Turismo Edição 134 – Dez/2006

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