FOZ DO IGUAÇU

Você já viu isso de perto?

O ex presidente americano Bill Clinton chegou a Foz do Iguaçu no meio da tarde e, aproveitando que o dia estava bonito, nem quis passar no hotel. Acompanhado de um novo amigo, o ator Anthony Hopkins, foi direto do aeroporto ao Parque das Cataratas para conhecer de perto o que até então só conhecia por foto. Com o bom humor típico de viajantes em férias (isso foi em agosto de 2001, oito meses depois de passar a presidência de seu país para George W. Bush), Clinton se deixou encharcar na passarela que dá bem de frente para o Salto Floriano e anotou no livro de ouro dos visitantes: ?Ninguém pode saber como é sem vir aqui. ÿ inacreditável, é maravilhoso!?

Outro americano bastante rodado, o cineasta Francis Ford Coppola, também levou um susto quando deu de cara com as cataratas, dois anos atrás. O diretor de O Poderoso Chefão se divertiu como criança no passeio de barco que leva os turistas até bem perto dos saltos, com direito a muito mais respingos, e prometeu voltar a região de mala e cuia para fazer um filme. A imagem das águas do Iguaçu se arrebentando no abismo em forma de ferradura era familiar para Coppola ? mas só ali, enfrentando a correnteza num valente bote inflável, ele pode sentir, com todos os efeitos especiais da natureza, a dimensão real dessa monumental cortina-d`água de 2700 metros de extensão.

Trilhas, rapel e muito mais

Citada em qualquer lista que se faça das grandes maravilhas naturais do mundo, as Cataratas do Iguaçu aparecem em tantas fotos e calendários que dão a sensação de déja vu mesmo a quem nunca as viu de verdade. Curiosamente, esse bombardeio de imagens provoca reações bem diferentes. Faz japoneses e australianos atravessarem o planeta para conhecer as quedas famosas, mas também dá a muitos a impressão de que podem dispensar a viagem, pois já viram o suficiente em revistas e programas de TV. Há também os que se sentem tão próximos dessa atração da natureza que acabam deixando a vista para depois ? um caso típico dos brasileiros. Só quatro entre dez visitantes das cataratas do ano passado eram do Brasil. Dos 980 000 turistas recebidos em 2004, nada menos que 575 000 vieram do exterior, fazendo de Foz do Iguaçu a sexta cidade brasileira mais procurada por estrangeiros, depois do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Fortaleza e Recife.

Se você se inclui entre os que vivem adiando a viagem para Foz, aqui vai um aviso: venha logo, porque já passou da hora de conhecer o mais espetacular conjunto de quedas-d`água do mundo. Caso já tenha visitado as cataratas, mas isso já faz algum tempo, outro aviso: está na hora de voltar. Não só porque vale a pena rever o que é bonito, mas porque agora a visita ao Parque Nacional do Iguaçu ficou muito mais completa e agradável. O tempo médio de permanência no parque, que antes era de duas horas, hoje toma toda a manhã, ou toda a tarde, combinando a contemplação nas passarelas, o passeio de barco e o almoço num restaurante na barraca do rio, apenas alguns metros antes do desabamento das águas no cânion do Iguaçu. E se você estiver disposto a explorar um pouco mais dessa magnífica reserva de Mata Atlântica de 185 000 hectares (maior que a área do município de São Paulo, por exemplo), pode reservar um dia inteiro ou até dois. Há 11 quilômetros de trilha na mata, além de uma série de atividades radicais, como rapel, arvorismo, escalada e rafting, oferecidas por empresas de ecoturismo.

Não faz muito tempo nem banheiro havia no parque. Hoje ele está cheio de confortos, como elevadores, restaurantes panorâmicos e vários quiosques ? fruto do investimento da empresa que ganhou a concessão para explora-lo, em 2000. antes disso a maneira mais civilizada de visitar o parque era reservando um quarto, ou uma mesa para almoço no Hotel Tropical, único autorizado a funcionar dentro da área. O hotel inaugurado em 1958 por JK, continua um charme. Se quiser se hospedar em alto estilo, reserve a suíte presidencial em que a princesa Diana ficou em 1991, quando ainda formava um casal aparentemente feliz com o Príncipe Charles. Sai por 2600 reais e tem a melhor vista para as cataratas.

Por falar em vista, é o momento de lembrar que as Cataratas do Iguaçu são compartilhadas pelo Brasil e a Argentina, numa sociedade que se tem revelado muito mais amigável que qualquer outra ação conjunta desses parceiros do Mercosul. A Argentina tem a vantagem de ser dona do maior pedaço das cataratas, cerca de dois terços, incluindo o maior salto, a Garganta do Diabo, com 82 metros, e a Ilha de San Martin, no meio do rio. Mas a vista mais ampla e impressionante fica, sem duvida, do lado brasileiro. No parque argentino o acesso às quedas é mais demorado, obrigando os visitantes a tomar um trenzinho até o início de duas quilométricas trilhas suspensas. No Brasil, dá para ver e ouvir as cataratas já da janela do ônibus, e as passarelas embora poucas e curtas, permitem uma visão frontal dos saltos. O circuito argentino dilui os visitantes e propicia um contato mais suave com a natureza. O brasileiro concentra todo mundo no mesmo lugar. Quer um conselho? Visite os dois parques e tire suas conclusões. E, para ter uma idéia do conjunto da obra, invista 60 dólares num sobrevôo de helicóptero.

Um show inesperado

Na época em que a visita as cataratas durava em média duas horas, os turistas costumavam passar apenas dois dias em Foz do Iguaçu. Agora ficam quatro ou cinco, porque a cidade ?assim como suas vizinhas na Argentina e no Paraguai ? também cresceu e ganhou novas atrações. Foz pulou de 28 000 habitantes, em 1960, para 136 000, em 1980, e 270 000 hoje. Junto com a Paraguai Ciudad Del Este, a Argentina Puerto Iguazú e outras cidades menores, forma uma fervilhante comunidade de fronteira com 770 000 pessoas de 65 etnias diferentes, num raio de apenas 30 quilômetros. ÿ uma diversidade cultural que só se costumam se encontrar em grandes metrópoles, e que facilita a produção dos dois shows de folclore latino em cartaz atualmente em Foz. Num deles apresentado por 48 artistas de 7 países na Churrascaria Rafain, um australiano virou notícia no ano passado: empolgado com o requebrado de nossas mulatas, subiu no palco e improvisou um strip tease. Acabou preso e liberado sob fiança horas depois.

Além desses shows, que os gringos adoram, Foz ganhou recentemente o Parque das aves, um resort com águas termais, um campo de golfe de 18 buracos, dúzias de novos restaurantes, bares e discotecas, shopping com pista de boliche e até iluminação especial na hidrelétrica de Itaipu. O gigantismo da usina, que é a maior do mundo, é um contraponto interessante as cataratas, com seus quase 8 quilômetros de barragem, lago três vezes maior que a Baía de Guanabara e capacidade de produzir um quarto de toda a energia elétrica brasileira. ÿ outra visita obrigatória, que você pode arrematar, se tiver nervos para isso, com um sobrevôo de trike ? uma asa delta motorizada que faz evoluções a 600 metros de altura na área de Itaipu.

Por fim, ainda mais motivos para cruzar a fronteira da direção de Puerto Iguazú e Ciudad Del Este. Você não precisa de passaporte para isso: basta a carteira de identidade. Na vinda da Argentina encontrará conjuntos de cashmere por 100 reais, casacos de couro por 200, ótimos vinhos e alfajores, uma penca de bares animados e cassinos. Na volta, aproveite para encher o tanque e dar uma passadinha no free shop, onde um aparelho de DVD sai por menos de 100 dólares. Já em Ciudad Del Este, que separada de Foz por outro rio, o Paraná, a oferta de produtos importados é bem maior e os preços também são melhores ? duro é se movimentar em suas ruas e lojas abarrotadas de gente e produtos, e resistir a tentação de comprar acima da cota permitida, de 300 dólares. Mas é bom resistir, por que a fiscalização na ponte e no aeroporto anda rigorosa. E dá para levar muita coisa dentro desse limite, até uma filmadora digital se você não fizer questão do ultimo lançamento da Sony.

A vocação comercial da fronteira atraiu muitos imigrantes, sobretudo árabes e chineses, o que explica a presença em Foz da segunda maior mesquita do Brasil e um dos maiores templos budistas do país. A comunidade árabe da região, calculada em 60 000 pessoas, é tão grande que vive sendo acusada pelos Estados Unidos de dar abrigo ao terrorismo da Al Qaeda. Nenhuma prova foi encontrada até hoje, mas essa suspeita deixou a cidade às moscas e ao maior baixo astral logo depois do ataque às Torres Gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001.

Revista Próxima Viagem agosto/2005

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