RECIFE E OLINDA

Três décadas depois do descobrimento do Brasil, nasciam no litoral do Nordeste, mais ou menos ao mesmo tempo, as cidades de Olinda, em 1535, e Recife, em 1537. Quase um século depois, em 1630, aportava na costa pernambucana uma poderosa esquadra com 70 navios, 200 canhões e cerca de sete mil homens. Eram os holandeses, que tinham sido expulsos da Bahia.

Eles chegaram e foram logo mostrando as armas: ocuparam e incendiaram Olinda, capital de Pernambuco, a mais rica e próspera das 15 capitanias em que Portugal retalhara o mapa do Brasil. Para mostrar poder e força, os holandeses destruíram uma capital e construíram outra. Assim, a povoação dos Arrecifes, um amontoado de casas de pescadores, virou a cidade do Recife.

VENEZA BRASILEIRA
Cinco séculos e 39 pontes depois (a primeira delas construída em 1643 pelos holandeses) Recife carrega, orgulhosa, um apelido que retrata com fidelidade o seu mapa recortado pela água. ÿ a Veneza brasileira, banhada pelos rios Capibaribe, Beberibe e Jaboatão e por uma rede de mais de 50 canais.

Visitá-la é um prazer que demora. Nela, é possível respirar a história e a conquista da liberdade em frente aos velhos casarões coloniais, às fachadas de azulejos, aos fortes e fortalezas, às igrejas e conventos. Recife é um pólo consolidado do Nordeste, uma área metropolitana com mais de três milhões de pessoas, um centro econômico de peso, um destino consagrado no mapa turístico do país e do mundo. A cidade recebe visitantes de todos os cantos, nacionais e internacionais, atraídos por suas praias, seu folclore, sua alegria, seu artesanato, seu caldinho de feijão, seu frevo, sua gente bonita e acolhedora e o seu sol que brilha o ano inteiro.

MARCA REGISTRADA
Os rios, cantados em verso, frevo e prosa pela gente da cidade, têm lugar de destaque no altar das atrações e marcas registradas da capital. Qualquer cartão postal recifense que se preze, mostra o Capibaribe e o Beberibe. Foi na foz dos rios que a cidade nasceu e cresceu e são eles que fazem Recife respirar e viver. São um espelho da força e da raça da brava gente pernambucana, que, na epopéia das duas batalhas de Guararapes (1648 e 1649), ?escreveu o endereço e firmou a nacionalidade do Brasil?, segundo Gilberto Freire. As duas batalhas foram decisivas para minar as resistências dos holandeses, expulsos de Pernambuco um pouco mais tarde, depois de 24 anos de dominação. Outra grande marca registrada de Recife está no frevo e no maracatu. Dizem os especialistas que o frevo é a dança mais rápida do mundo.

BOA VIAGEM
Praia também é uma especialidade de Recife. Com um clima agradável (máxima de 30 graus e mínima de 18 graus), a capital pernambucana vive sob o permanente sopro de uma brisa que anima os coqueiros da orla e transforma o tórrido verão nordestino numa estação especialmente agradável. O mar, de tom verde que lembra as águas do Caribe, é o cenário de todos os eventos importantes da cidade. Recife ?acontece? na praia de Boa Viagem, onde um programa simples pode ser classificado de imperdível.

Recife, na verdade, são duas cidades. A dos rios e pontes, cheia de marcas da colonização portuguesa e heranças da invasão holandesa, impregnada de história e tradição; e a que olha para o mar, moderna, em Boa Viagem. As duas Recifes, por assim dizer, são ligadas por avenidas largas e sempre movimentadas. O mar, aliás, é responsável direto pelas delícias da culinária local. Há restaurantes capazes de preparar pratos fantásticos com frutos do mar, também presentes em petiscos acessíveis na maioria dos bares da cidade. Além dos frutos do mar, o visitante deve provar a carne de sol. Ela ganha nível elevadíssimo em alguns restaurantes recifenses. Há ainda especialidades como fritada de guaiamum (caranguejo comum em Pernambuco) e feijão verde regado à manteiga de garrafa. E entre os tira-gostos, há a agulha frita (peixe do litoral pernambucano) e o infalível caldinho de feijão, que em Recife parece ter saído do fundo da mais deliciosa feijoada do planeta. ÿ uma delícia.

OLINDA
Depois de viajar seis quilômetros pela avenida Agamenon Magalhães, chega-se a Olinda, cidade gêmea de Recife. Fundada em 1535 como sede da capitania de Pernambuco, chamou-se inicialmente Nova Lusitânia. Seu nome para valer surgiria mais tarde extraído de uma exclamação de seu fundador, Duarte Coelho, que ao chegar ao topo da colina onde a cidade nasceu, disse em voz alta para os que o acompanhavam: ?ÿ linda situação para uma vila?. Dizem os pernambucanos mais fanáticos que se Recife é a Veneza brasileira, Olinda é a nossa Montmartre, o bairro dos artistas e da boemia parisiense. A cidade abriga centenas de ateliês de artesãos e artistas plásticos, tem um venerável centro histórico e ferve à noite e nos fins de semana embalada pelo frevo, por trios elétricos e maracatus.

Em 1982 Olinda foi alçada pela Unesco à condição de Patrimônio Histórico da Humanidade, título que condecora cidades como Roma, Lisboa e Ouro Preto, entre outras. Desde então suas construções seculares são intocáveis. Todas têm uma história rica em detalhes conhecidos e recitados pelos guias mirins, uma marca registrada de Olinda.

ALTO DA SÉ
Entre os poucos prédios que escaparam à fúria e ao fogo dos holandeses na invasão de 1630, estão a Igreja da Sé, construída em 1537. Fica no Alto da Sé, o ponto mais alto de Olinda e é sede do Arcebispado de Olinda e Recife. Na área histórica há pelo menos 22 igrejas que datam dos séculos XVI, XVII e XVIII, além de 11 capelas, três bicas d?água e dois marcos da invasão holandesa. Não se deve deixar de ir ao Convento de São Francisco, primeiro dos franciscanos no Brasil, construído em 1585. E ao Seminário de Olinda, antigo Colégio dos Jesuítas, onde moraram os padres Manoel de Nóbrega e Antonio Vieira.

Jornal TuriNews - Edição 6

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